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Viver é Escolher!

É muito comum que as pessoas se refiram à vida como uma longa estrada, uma trajetória durante a qual existem forças que facilitam a caminhada e outras que a dificultam em menor ou maior grau. Da mesma forma, nessa trajetória existem infinitas encruzilhadas diante das quais é necessário decidir, escolher. As escolhas se dão diante de situações extremamente simples, como a decisão entre acordar mais cedo ou mais tarde, até aquelas que requerem uma reflexão maior, pois podem desencadear efeitos mais profundos. Como se trata de algo que é necessário fazer constantemente, decidir entre várias opções poderia ser um processo fácil e até prazeroso; no entanto, em muitas ocasiões, esses momentos podem ser vivenciados com dor e sofrimento. Como isto se origina?


Na maior parte do tempo, o processo educativo traz embutida a ideia de que errar é motivo para punições e isso dá margem para a construção de seres humanos que sempre estão em busca da perfeição e não da criação e da experimentação. Entretanto, a vida requer permanentemente que as pessoas criem e recriem em seu dia a dia: os imprevistos surgem a todo momento e é preciso lançar mão de ajustamentos baseados nesse potencial criativo que todo ser humano possui. A criatividade não é um atributo apenas de artistas e sim de todos aqueles que resolvem viver e não vegetar. A partir do momento em que se associa a ideia de errar à punição e até à possibilidade de perder o amor dos pais, as pessoas iniciam um processo em que dificilmente se arriscam a escolher de maneira fácil.



Escolher significa abrir mão de várias outras opções que se encontram à disposição; além do que nenhuma escolha trará apenas resultados positivos e os resultados nunca são completamente previsíveis. Diante disso, as pessoas se deparam com a necessidade de arriscar-se sabendo que nada poderá dar a garantia de perfeição que tanto almejam. Ou seja, vivemos sempre sem a possibilidade de passar a limpo, percebendo como cada escolha vai construindo nossa vida de um modo completamente único e pessoal.


As filosofias existencialistas descrevem o ser humano como alguém que se encontra sozinho diante de suas escolhas e da construção de seu projeto de vida. No entanto, existe a ilusão de que é possível entregar ao outro o poder de decisão. É comum, assim, o relato de pessoas que dizem que tomaram decisões baseadas nos conselhos de outras pessoas ou que nunca decidem nada sem antes consultar outras opiniões. Responsabilizar o outro pelas próprias escolhas é uma ilusão: no momento em que se recorre a um conselho, escolhe-se o conselheiro; assim como, no momento em que se permite que os outros decidam, também se escolhe isto! Ninguém tem como deixar de escolher, de decidir; essa seria a grande fonte de ansiedade que os autores existencialistas evidenciam. No momento em que se percebe isso, termina a possibilidade de vitimização diante da vida: somos responsáveis pelas nossas escolhas!


Costumo dizer que podemos adotar duas posturas diante de uma folha de papel em branco: 1) “Que horror! O que faço diante de todo esse espaço em branco?” ou 2) “Que maravilha! Posso criar o que eu bem entender nesse espaço em branco!”. Ora, a vida nada mais é do que essa folha de papel em branco, que olhar vou lançar sobre ela? Essa também é uma decisão.


Existem momentos em que parece não haver possibilidade de escolha; no entanto, o espaço em branco sempre está presente; sobre o qual é possível decidir o que é melhor para si, diante das opções com as quais se conta. Cora Coralina escreveu de forma brilhante a esse respeito:


“Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida que o mais importante é o decidir”


Mas o que fazer diante do medo que toma conta e impede uma vida mais plena e feliz em que a pessoa possa sentir-se dona de sua própria história? A Gestalt-terapia busca facilitar a autodescoberta e a construção do autossuporte Sendo assim, o Gestalt-terapeuta trabalhará facilitando a construção de um ser humano mais responsável diante de sua existência e ele não ocupará o lugar de conselheiro jamais. O psicoterapeuta é aquele que facilita que o seu cliente possa escutar-se num espaço seguro, para que ele próprio possa tomar as suas decisões.


No início deste texto fiz referência às dificuldades que podem surgir na caminhada da vida; pois bem, mediante um maior autoconhecimento é possível deixar de ser a própria dificuldade que se tenta, em vão, atribuir ao outro. Enfim, perde-se a ingenuidade e ganha-se a sabedoria!




Profª Dra. Dafne Suit


Psicóloga Clínica (CRP:03/01380), Gestalt-terapeuta, Sócia fundadora da Comunidade Gestáltica da Bahia



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